Monday, October 23, 2006

O fim-de-semana passado fui a uma discoteca incrível. Como em todas as discotecas, excepção se faça ao Lux, encontrei um grande reboliço à porta. As conversas rondavam os temas clássicos – eu tenho um amigo que conhece o porteiro; vou tentar entrar sem pagar; a Joana está vestida de uma maneira incrível; a gaja já não namora com o gajo – no entanto, um tema novo chamou a minha atenção. Falava-se muito de música, as pessoas perguntavam-se qual o grupo/artista que ouviriam e discutiam-no de uma forma acesa. Inicialmente pensei que se falava do DJ que actuaria naquela noite, mas à medida que me aproximava da porta as discussões ficavam mais quentes e o consenso, entre amigos, no nome musical parecia obrigatório. Enfim… pareceu-me que a noite não seria nada de especial, gente excitada demais para o meu gosto.
Finalmente o porteiro chamou-nos. Disse-nos que o preço para entrar era de 25€, com direito a uma bebida. Já não bastava toda aquela gente excitada, como iria pagar um absurdo para os aturar, mas o pessoal insistiu e lá fui eu. Em seguida obrigaram-nos a desligar o telemóvel e a deixá-lo numa espécie de bengaleiro, passamos por um detector de metais e entregaram-nos um conjunto composto por auscultadores e um receptor (parecia um daqueles conjuntos que se aluga nos museus para nos ajudar a perceber o que estamos a ver). Perguntei à rapariga para que é que servia aquilo. Respondeu-me que teria que escolher um grupo ou artista, e que com base no nome apontado e em mais uma panóplia de variáveis seria criada a banda sonora da minha noite. Fabuloso! Bem o primeiro nome que me saltou à cabeça foi o da Cat Power. Trata-se da minha última paixão e tenho que preparar o concerto que se avizinha.
Coloquei os auscultadores e a porta abriu-se ao som de “Love & Communication”. Não me lembro de ter entrado numa discoteca ao som de tão grandiosa música. Assim que entrei, reparei que havia pessoas a dançar aos mais variados estilos e com ritmos completamente diferentes. Uma visão incrível. Havia pessoas encostadas ao bar a bater calmamente o pezinho, assim, como no meio da pista havia gente a dançar de uma forma mais agressiva, grupos de pessoas riam-se umas para as outras enquanto dançavam de maneira completamente diferente. O que é que estariam a ouvir? Passei grande parte do meu tempo a rir e a imaginar o que é que cada pessoa estaria a ouvir.
As pessoas que trabalhavam nos bares também dançavam a ritmos completamente diferentes, curiosamente, ou não, quando fui beber pedi a bebida à pessoa cujo ritmo melhor encaixava na música que estava a ouvir no momento. “Rain on the Pretty Ones” do Ed Harcourt (nunca pensei que algum dia ouviria esta música numa discoteca – musicalmente, a noite estava a ser muito calminha). Quando tiro os auscultadores para pedir a bebida, mais uma sensação incrível. O silêncio praticamente absoluto, era apenas quebrado pelo som, não ritmado, dos pés de toda aquela gente. Perfeito, quando as pessoas quisessem conversar bastaria tirar os auscultadores, curiosamente não vi ninguém a fazê-lo.
Quando estava prestes a sair, reparei numa clássica cena de engate. Com excepção de que ela estaria a ouvir uns St. Germain e ele estaria a ouvir uns Ramones ou outro grupo punk. Foi muito engraçado ver as inúmeras tentativas, falhadas, de sincronização das danças. Mas, como dizia o outro “…Não se ama alguém que não ouve a mesma canção…”. À saída, enquanto entregava a aparelhagem, aparece a rapariga do engate a que assisti, e ouço uma voz de dentro da discoteca: “Qual é o grupo que devo escolher?”, ela responde: “Craig Armstrong”. Pronto, tudo seria resolvido no próximo Sábado.
Como já todos devem estar a imaginar esta discoteca apenas existe na minha cabeça, mas parece-me uma óptima oportunidade de negócio, alguém tem dinheiro para investir? No entanto, em conversa com um amigo meu, descobri que alguém já tinha tido uma ideia semelhante e que a tinha posto em prática num festival de música electrónica. Vou investigar.

4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Ai esta o Miro a escrever com alto nível.
Quanto ao negócio/ideia da disco, tenho duas ideias:
Ideia Filosofia: Execelente ideia para uma coisa diferente, com o seu que de solidão mas a nível musical seria muito interessante.
Ideia Economicista: Quando se pensa num negócio nunca se deve começa-lo por limitar os Cliente, ou seja, diminuir o nicho de mercado, esta ideia seria muito isso, uma disco só para pessoal ligado, ou melhor, muito ligado a música.
Vou estar atento aos próximos textos
Um Abraço Monstro

9:39 AM  
Anonymous Anonymous said...

A descrição está incrivel... até apetece ir a essa discoteca...
tem a vantagem enorme de estarmos sempre a ouvir a musica que queremos, e claro, descobrir a nossa cara metade, a que bate o pé ao mesmo ritmo ;)

Canela

12:16 PM  
Anonymous Anonymous said...

sempre com coisas bonitas para dizer... gostei muito!

2:41 AM  
Anonymous Anonymous said...

Também é a minha música preferida desse album...

12:38 PM  

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