Tuesday, October 17, 2006

No outro dia, enquanto caminhava para o emprego, imaginava se um dia eu fosse preso e se apenas me permitissem ouvir três músicas durante o tempo de clausura, quais as músicas que eu escolheria?
Comecei por pensar nos meus músicos preferidos: David Bowie, Jeff Buckley, Led Zeppelin, Ramones, John Lee Hooker, Robert Johnson, Iggy Pop, Jimi Hendrix, Craig Armstrong, Joseph Arthur, …, ou seja, por aqui não iria longe. Passei então a pensar o que me leva a ouvir a mesma música mais do que uma vez. Uma voz que soa como se fosse a última vez que se deixa ouvir, uma forma de tocar um instrumento como se o que o músico pretende dizer é dito, na perfeição, pelo instrumento. Na realidade o que mais gosto é que uma música me leve a sentir algo, conclusão sem novidade absolutamente nenhuma, afinal de contas é para isto que a arte serve.
Depois de todos estes pensamentos, lembrei-me de uma música que já me acompanha há muito tempo e que vai de encontro a todas as minhas exigências. É o “Heroes”, escrito por David Bowie e Brian Eno. O LP com o mesmo nome faz parte de uma sequência de obras apelidada de fase Berlinense da carreira de David Bowie. A sequência é composta por “Low”, “Heroes” e “Lodger”. Curiosamente o single foi editado primeiro em Paris e só depois no resto do mundo, em Setembro de 1977. Existem várias teorias relativamente ao que inspirou o tema da música: dois amantes que David Bowie viu junto ao Muro de Berlim; um beijo entre Tony Visconti, co-produtor do álbum, e Antonia Maass, segunda voz do álbum, junto ao famoso muro ou um quadro do pintor Otto Mueller chamado “Lovers Between Garden Walls”. Quando colocada esta questão, David Bowie responde dizendo que deveria ser Tony Visconti a responder.
Passemos ao melhor exemplo de uma música em que o som do instrumento pode, e deve, ser confundido com a voz de um músico. “Voodoo Chile (slight return)” interpretada por Jimi Hendrix. O melhor guitarrista de rock de todos os tempos. Aqui está mais um excelente exemplo de um músico que esteve à frente do seu tempo. Toda a evolução da tecnologia de gravação do som dos instrumentos e todos os que se dedicaram à aprendizagem deste instrumento não conseguiram transmitir tanta energia no som de uma guitarra como Jimi Hendrix, especialmente nesta música. Editada em 1968 (continuo sem perceber como é que é possível neste ano alguém ter gravado esta música…) no disco Electric Ladyland pela Jimi Hendrix Experience.
Por último, a música que me fez ouvir Nina Simone, a música que demonstra na perfeição as soberbas capacidades de interpretação do músico que mais impacto teve em mim nos últimos anos – Lilac Wine. A música foi composta por James Alan Shelton, Nina Simone gravou-a pela primeira vez no disco Wild is the Wind. Jeff Buckley considerava a versão gravada por Nina Simone a melhor de todas as versões que a música já teve. Na minha opinião a versão de Jeff Buckley é a mais perfeita. A sonoridade jazzy, as pausas e a voz fazem com que consiga imaginar que estou na sala de gravações onde a versão foi gravada, obrigam-me a desistir de tudo o que estou a fazer, a parar de pensar e fazem-me sentir culpado.
Acho que também deviam fazer este exercício, nunca se sabe as voltas que a vida dá.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

muito bom...
agora quero ver mais textos destes...

9:27 AM  

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